sábado, 17 de maio de 2008

COMO A CULTURA CONDICIONA O HOMEM


A cultura é coextensiva à humanidade: o facto de ser um ser “cultivado” é, para o Homem, um facto universal. Tal é a única e verdadeira definição de natureza humana: ela somente ascende à sua verdade e a sua realização no seio dum processo cultural. Entra na cultura, ou numa cultura, é assimilar, pouco a pouco, insensivelmente, sem por vezes o saber e o querer, não pedem o nosso consentimento – desde o nosso nascimento, senão desde a nossa concepção, a ordem e as regras dum sistema de valores. Há uma dimensão de passividade, não consciente, mesmo inconsciente, na educação na qual somo ao mesmo tempo sujeitos e objectos, porque ela é, em primeiro lugar, um facto social. Não escolhemos livremente o nosso nome, a nossa língua, o nosso real, as proibições, os valores e preconceitos que vão constituir pouco a pouco o quadro mental da nossa vida.
Toda a cultura é já, neste sentido constrangimento, limitação e formação, obrigação e exigência, aconselhamento e aprendizagem, formas mais ou menos dissimuladas de negação que condiciona toda a determinação. O resultado do que é hábito, o costume, a evidência que nos torna o arbitrário cultural aceitável, conveniente e dirigível. É nesta condição que se pode ser persa, mongol ou francês e aceitar essa condição com orgulho.
A cultura é nos, de qualquer maneira, natural e torna-se o nosso meio de crescimento e de educação. “dizei a um canibal” escreveu Montesquieu , “instruído desde a sua juventude para matar Homens fim de se alimentar da sua carne, que isso é uma acção injusta e que lhe basta voltar a si e procurar na sua consciência uma lei que proíba essa acção, e ele vos responderá ingenuamente que não encontra nada de semelhante e que os seus compatriotas são exactamente como ele. Será em vão que tentareis convencê-los. O exemplo e a educação apoderaram-se do seu espírito e apagaram as impressões naturais, às quais só vós o pretendeis conduzir, e que ele já não é capaz de reconhecer”
Como se efectua essa interiorização dos valores culturais? Que faz uma cultura fabricar os seus sujeitos? Como fazer um persa, um mongol, um francês, mas também um professor, um cortesão, um proletário, um usurário? Fazendo-os estar num sistema de signos e de significações.
Philippe Choulet: Nature et Culture; Paris, Quintette, PP. 37-40

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